domingo, 22 de abril de 2012

vida de professora

e há quem diga por aí que a pós-graduação não tem importância e que os professores que nela atuam não fazem nada... imagina! hoje, domingo, dia ensolarado, temperatura agradável e eu, no meu gabinete de estudos, lendo e revisando as dissertações dos meus orientandos. quem diria, neste belo dia outonal e em pleno fim-de-semana, estou trabalhando sem que este tempo sequer apareça como hora trabalhada... não, não estou reclamando de nada! (não sou hipócrita, faço o que gosto). mas é que às vezes os próprios colegas não conhecem (nem reconhecem) as agruras por que passam os professores ligados à pesquisa e à todas as demais atividades do ppgletras. é que muita gente esquece que atuar na pós-graduação não significa "abandonar" a graduação... exatamente o contrário, o vínculo se torna mais estreito e muito mais forte. ainda nesta semana, um querido amigo e respeitado colega me confidenciou que seu ritmo de trabalho está alucinado, porque tem de avaliar 8 teses em pouqíssimo tempo (coisa de semana e pouco), sem descuidar, é claro, de suas aulas, de suas orientações, de suas pesquisas, de seus pensamentos. e pra quem diz ou pensa que o salário é maior pra quem atua nas ppgs, bem, revelo que meu ganho continua o mesmo, sem acréscimos algum... ser pesquisador e estar vinculado a um ppg significa colocar-se à prova, é gerar conhecimentos, é comprometer-se com a saúde intelectual dos alunos, tanto os da graduação quanto os da pós-graduação... mas isso requer amor ao seu ofício e boas doses de desprendimento, sem falar, é claro, na elegância de saber pensar.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

preparando aulas e revisando orientandos

no momento, estou preparando aulas sobre metapoesia com alguns poemas de ferreira gullar;
também estou revisando uma dissertação de uma orientanda;
ah, e como ia esquecendo? penso constantemente em fernando pessoa... (este pós-doc ainda me mata...)
como disse uma querida amiga por email: "com os apelos acadêmicos e domésticos se somando" fica muito difícil encontrarmos tempo para  "atualizarmos nossa agenda litero-pecuária"; é que Marilene (da ufpr) também é como eu, isto é, tem um pé na vida rural...

fernando pessoa aquém do eu, além do outro


todo mundo sabe que a fortuna crítica de fernando pessoa é, praticamente, inesgotável, basta dar uma chegadinha no site da "casa fernando pessoa" e ver a quantidade de registros. isso, de certa maneira, se torna um problema para quem, como eu, deseja trabalhar com o poeta português. então, no meio de tantas referências é bom contar com a intuição e com as indicações precisas. pois foi assim que busquei a nova edição do livro "fernando pessoa - aquém do eu, além do outro", da ensaísta leyla perrone-moisés (bem, é de 2001, mas se considerarmos que a primeira é de 1982, esta, a 3ª, pode ser considerada nova...). independente da análise lacaniana que me parece muito insistente, é um gosto ler quem conhece mesmo de teoria de poesia, e não tem medo de fazer afirmações que possam causar incômodos a certos redutos da "academia" contemporânea. eu, particularmente, me identifico com muitas de suas críticas em relação a essa coisa chata que teima em ver os heterônimos como "entidades independentes", ou "encarnações de outros espíritos", etc, como se todos não fossem parte de um mesmo processo de ficcionalização. de fato, há estudos que são clássicos; este é um deles.

sábado, 14 de abril de 2012

A poesia brasileira e os tecidos do mito de narciso


[este ensaio foi apresentado, e posteriormente publicado, nos respectivos anais do Seminário Internacional da História da Literatura - PUCRS, Porto Alegre, 2007]


Muito tem se falado e escrito sobre a necessidade de novos critérios para a História das Literaturas. É consenso que a visão totalizadora e unificada, ainda tradicionalmente apresentada nos cursos de graduação, não dá conta dos inúmeros matizes que a literatura, em especial a poesia, contemporânea apresenta. As tentativas de traçar panoramas abrangentes sobre a produção poética brasileira após Semana de Arte Moderna, em 1922, tem frustrado porque inevitavelmente priorizam certos temas e poetas mais afeitos aos conceitos de “representativos” dos seus autores, com os quais, aliás, não preciso concordar.
Um dos sintomas mais interessantes da falência da historiografia literária como um compêndio completo de “estilos de época” se deu com os poetas. Como etiquetar com a mesma legenda nomes como Carlos Drummond, Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Vinícius de Moraes, Murilo Mendes, Cecília Meireles, João Cabral, Jorge de Lima, entre outros. Agrupá-los como modernistas é subestimar suas poesias e a própria idéia de modernismo. Via de regra, com suas inúmeras exceções, é sabido que um dos vetores modernistas foi a necessidade de se reimprimir identidades brasileiras que dessem vazão às múltiplas faces de nossas gentes. A identidade nacional tornou-se plural. Essa tem sido uma das linhas temáticas em torno da qual se agrupam nomes, dando relevância para uns e status um pouco inferior para outros. Por outro lado, os movimentos reivindicatórios acerca das diversidades abriram a possibilidade para que a História da Literatura também deixasse de ser um conjunto homogêneo de idéias e de princípios estéticos esquematicamente colocados no decurso do tempo.
O século XX desvendou a crise identitária e a aprofundou nas questões nacionalistas e nas interrogações individualizadas. Em decorrência das afirmações eufóricas dos românticos seguiu-se, pela via modernista, uma certa instabilidade emocional acerca das certezas identitárias. Não foi à toa que Mário de Andrade dizia ser trezentos, aliás, trezentos e cinqüenta.
Os próprios poetas se entregaram à tarefa de organizarem suas poesias.

terça-feira, 10 de abril de 2012

leitura do dia

estou relendo Apresentação da poesia brasileira, do Manuel Bandeira. eu tenho uma edição antiga, muito lindinha porém suas folhas já estão amareladas demais, de forma que me dei de presente esta edição que tenho em mãos: a da Cosac Naify, de 2009. e convenhamos que manuel era um "sabido"! a lispector, em uma de suas cartas recentemente publicadas, dizia que o poeta era muito tristinho (palavras dela), até pode ser, mas que era sabido, lá isso era! e conhecia de poesia e quejandos...

poemas diversos para as aulas - mestrado 2012

[os poemas abaixo são alguns usados nas aulas de "tópicos avançados de literatura brasileira", cujo tema este ano é a metapoesia na poesia brasileira - manuel bandeira, drummond, cecília meireles e adélia prado]


[de Safo]



Mais verde que uma erva


Igual aos deuses esse homem

       me parece: diante de ti

sentado, e tão próximo, ouve

       a doçura da tua voz,


e o teu riso claro e solto. Pobre

       de mim: o coração me bate

de assustado. Num ápice te vejo

        e a voz se me vai;


a língua paralisa; um arrepio

      de fogo, fugaz e fino,

corre-me a carne; enevoados

      os olhos; tontos os ouvidos.


O suor me toma, um tremor

       me prende. Mais verde sou

do que uma erva – e de mim

       não me parece a morte longe (...)


segunda-feira, 9 de abril de 2012

V seminário nacional de história da literatura

já estão abertas as inscrições para o V seminário nacional de história da literatura; de hoje até 30 de abril é só acessar a página www.senalit.furg.br e conhecer a programação e os convidados, as normas para apresentação de trabalhos, fichas de inscrições, e tudo o mais. o seminário vai acontecer durante os dias 15, 16 e 17 de maio, na universidade federal do rio grande. trata-se de evento bianual promovido pelo programa de pós-graduação em letras - história da literatura, da furg. vale conferir!

Memória, imaginário e movimento


[este ensaio está publicado em: BERND, Zilá. (org). Dicionário das mobilidades culturais: percursos americanos. Porto Alegre: Literalis, 2010]


Resumo : A memória, tal como é pensada pela objetividade científica da Sociologia e da  Psicanálise, não consegue abarcar as muitas possibilidades significativas para  construções de imagens brotadas da memória individual, que os textos literários, em especial a lírica sobre a infância e as autobiografias, apresentam. Para que se torne possível a articulação entre memória e movimento, este ensaio pretende ser construído buscando outra razão, a razão do imaginário, tal como a propõe Gilberto Durand. Tendo, portanto, a Filosofia do Imaginário como base argumentativa, as propostas de leituras serão encaminhadas a partir dos conceitos de devaneio, de sonho, de memória, de infância de Gaston Bachelard, desenvolvidos em seus estudos relativos aos elementos cosmogônicos na formação de uma “imagem material”, com especial enfoque para A poética do devaneio, tomando como exemplo de tais processos alguns poemas retirados de Poesia e sua autobiografia Segredos de infância, de Augusto Meyer.

            Para discorrer sobre a memória, cuja essência é a imagem que se movimenta, preciso usá-la no momento em que a penso. Como um círculo ininterrupto de relações paradoxais entre realidade e ficção, através do qual a memória salta e exerce seu poder articulador de inteligibilidade, eu me encontro em uma espécie de gozo e sofrimento para redigir tudo aquilo que me acorre e socorre na minha memória sobre a Memória. Tratá-la em seu aspecto sinestésico, através do qual os conteúdos do passado possam emigrar para o presente do ser devaneante, pressupõe considerá-la nas relações intrínsecas do trinômio: memória, imaginário e movimento. 
            O tema é bastante amplo e complexo. Em verdade, trata-se de um problema filosófico ainda sem respostas definitivas. Como eu vou entrar nessa discussão? A  partir de que ponto posso explorar o que preciso explorar? Em suma, que caminho devo tomar?  Sei, apenas, que conheço a memória, pois dela me utilizo em várias situações cotidianas, ritualísticas, profissionais. Por outro lado, pergunto-me se a entendo em suas particularidades, em suas divisões epistêmicas, em seus atributos neurotransmissores, etc.  Hoje em dia se fala muito em memória! Há receitas alimentares para mantê-la, há também discussões calorosas sobre as doenças demenciais, uma das quais se caracteriza pela perda da memória. e há a memória na literatura.
            Creio, então, que o melhor é organizar meus pensamentos.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

banca de dissertação

no momento estou lendo a dissertação da mestranda miliana mariano da silva, orientada pela profa. dra. maria de fátima cruvinel, do programa de pós-graduação em letras e lingüística da universidade federal de goiás. a dissertação se intitula "memória escolar e literatura", sobre as representações da escola em "infância", de graciliano, "doidinho", de zé lins, "boitempo", de drummond, e "vintém de cobre" de cora coralina. a defesa está marcada para o dia 10 de abril, em goiânia, bela cidade do interiorzão do brasil.

segunda-feira, 2 de abril de 2012




[Projeto para estágio de pós-doutoramento em andamento]

O LABIRINTO E O LAGO NAS ALTURAS

(LEITURAS DE POESIA – FERNANDO PESSOA E AUGUSTO MEYER)

 [Supervisão:Profa. Dra. Vera Aguiar – PUCRS]


1.1  ANTECEDENTES

Desde meu curso de Mestrado em Literatura Brasileira[1], passando pelo doutoramento na mesma área[2], ambos cursos realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tenho desenvolvido trabalho de investigação sobre as manifestações literárias inseridas na etiqueta “literatura íntima”. Após esse período de formação acadêmica, continuei minhas pesquisas relativas ao gênero autobiográfico através de orientações na graduação, com alunos bolsistas pibic-cnpq, bem como no curso de mestrado História da Literatura, FURG, com meus orientandos. Os resultados têm sido utilizados nas aulas ministradas especialmente na pós-graduação; as publicações que tenho feito igualmente têm seguido esse caminho[3].