sábado, 26 de maio de 2012

é a greve...

então, numa reunião em que deveriam estar apenas os professores do ila (instituto de letras e artes), recebemos a visita de dois integrantes da aprofurg e do comando de greve; pelo que me consta, a idéia era uma conversa sobre a posição do instituto, mas algo pra conversarmos mesmo. até que a coisa seguia bem, mas a patrulha ideológica entrou em ação. nesses momentos de cegueira e paixão (às vezes são sinônimos...), as pessoas não conseguem conviver com quem tem opinião divergente. eu me senti patrulhada porque pra mim esta greve já nasceu sem méritos devidos. alguns de nós tentaram dizer que são contra a greve, mas a força do teatro e do discurso com tonalidades de tragédia e apocalipse, que fez uma colega inflamada pela emoção, trouxe como resultado um grande desconforto geral. tenho ouvido que muitos professores não são grevistas por convicção, mas sim por imposição de uma maioria votante em uma assembléia com menos de 10% dos professores da universidade. isso é triste e, por si só, já demonstra a falta de efetivo interesse no assunto. aliás, me relatou uma colega, que foi à última assembléia cuja pauta era "informes gerais da greve", que àqueles que perguntavam sobre as discussões entre os sindicatos e o ministério recebia como resposta uma enxovalhada de ofensas e desrespeito de toda ordem. claro está que estes professores "indagadores" não são grevistas e, por isto, são desconsiderados e desrespeitados pela patrulha ideológica. quem perde com a intolerância? quem perde com a deselegância? quem perde com a falta de respeito? será que sou menos responsável só porque penso a partir de outras premissas? por que minha opinião contrária à greve significa, segundo a patrulha ideológica de sempre, falta de inteligência, submissão ao poder econômico, visão despolitizada, pelego e tantas outras expressões pejorativas? não é a pauta de reivindicações que eu e muitos outros questionamos, mas sim o instrumento da greve. é tão dif´cil entender isso? então, como conseqüência natural, a gente se pergunta: o que está efetivamente por trás desta greve? por que esta reitoria, prontamente, aceitou o estado de greve dos alunos e dos professores? espírito democrático? ano de eleições... 

sábado, 19 de maio de 2012

V seminário nacional de história da literatura

nos dias 15 a 17 desta semana de maio, tivemos o V seminário de história da literatura promovido pelo programa de pós-graduação em letras da furg. foram conferecistas: marisa lajolo (unicamp/universidade presbiteriana mackenzie), carlos alexandre baumgarten (furg), heidrun krieger olinto (puc-rio) e luís bueno (ufpr); os painelistas foram: aimée bolaños (furg), eliane campello (ucpel), luciana jardim (furg),eloína prati dos santos (ufrgs),  eurídice figueiredo (uff) e rubelise da cunha (furg). também tivemos sessões de comunicações variadas.
quero ressaltar duas conversas muito interessantes que tive nos bastidores: com a heidrum, no percurso de uma carona até a cidade, momento em que conversamos sobre o intelectual de risco, e que eu poderia chamar de "orgânico"; e com a luciana jardim e zé fornos, com quem destilei muitas idéias sobre poesia e a necessidade do crítico de vivê-la com entrega, e também sobre bachelard e sua perspectiva desafiadora ao racionalismo clássico que domina os meios acadêmicos.
os dias se fizeram misteriosamente muito ensolarados para esta época do ano, a temperatura estava amena e o auditório quase lotado. parabéns à comissão organizadora: mauro, rubelise, carlos, mairin e cícero (nosso fiel escudeiro que nos salva de muitos apertos).

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Da solidão e do estado de inadequação ou minha sensação do V senalit e uma reclamação cômica e mal-dormida




Em mim sempre se estabelece um conflito que, na maioria das vezes, não alcanço solução. Sou deste ambiente acadêmico, mas ao mesmo tempo percebo-me em inadequação. Muitas coisas me enfadam e me constrangem. Ainda não sei o que se passa – sei apenas do desconforto que sinto quando ouço palestras exageradamente auto-centradas. Será isso uma falta dos palestrantes ou minha? Na crueza dos fatos, não me agradam. Que fazer? Abster-me? Aderir a algo que me nauseia? Venho tentando uma parcialidade, mas creio que sem eficácia. Passo despercebida até para recompor uma linha histórica das atividades acadêmicas. E me pergunto: é isso, efetivamente, importante? Não seria mais proveitoso fazer-me solitária de vez? Afinal, quem são meus parceiros intelectuais na academia? E meus estudos, que teimam em não seguir o racionalismo clássico, interessam a quem? Quem me ouve? Quem me dá crédito? De meus pares, certamente, poucos. Por quê? O que me interessa de fato? Gosto de pensar com independência e sem interferências de modismos. Mas os modismos me afetam? Decididamente não gosto de estar sob holofotes, prefiro a solidão dos processos de criação e de pensar, pensar e pensar. Também gosto de ensinar, de ver os alunos rompendo brumas; mas me exibir, realmente, não gosto. Sou tímida, sou dos silêncios, do recolhimento, da contemplação, das observações – em cismar, sozinho, à noite / mais prazer encontro eu lá; este é o mote lírico do Gonçalves Dias. Talvez estas características de minha personalidade me levem a criar outra escala de valores, para os quais reajo organicamente, e não apenas como “discurso” enfático, sedutor, promessa de vitrine.  Qual é, afinal, o meu espaço? A solidão pode ser uma boa resposta. A solidão e a aguda consciência da individualidade. A solidão... Outra resposta: minha inadequação (ou falta de parcerias) à geração dominante e àquela que está desejosa de se instalar. No mais das vezes, ou me volto aos mais velhos (coisa de 10 a 15 anos), ou me filio aos mais novos (coisa de 10 a 15 anos). Isso me deixa de lado, meio à deriva. Enfim, sou um ser solitário – por temperamento e também por necessidades de sobrevivência. [e veja-se a ironia da coisa: tenho um blog para me expor...]

sexta-feira, 11 de maio de 2012

tirei o dia pra pensar

onde quer que eu vá, vou com o pensamento em fernando pessoa. mas resolvi, hoje, tirar o dia pra pensar; decidi: vou ver se encontro umas novilhas ou terneiras de sobreano pra comprar, umas 10 cabeças. é que estou com o campo cheio de pasto. e fui pensando em poesia... as coisas que pensei! tem tantos estudos sobre poesia muito chatos! muito previsíveis, muito comuns. a poesia encastelada nos muros universitários... que triste. hoje em dia só se dá crédito ao poeta que também é professor. mais do que triste, isto é um preconceito e, como todo preconceito, ridículo. mas a verdade é que há muito professor que também é poeta (como eu, aliás...). e eu ia pensando, nesta tarde linda de hoje, em como sair da armadilha que eu mesma criei pra mim nas aulas da pós-graduação... sinceramente, como repetiria manuel bandeira em seus dias mais fervorosos de modernismo, "estou farta do lirismo bem comedido...". muita poesia parece ser nova, inovadora, original, estupenda, mas ... ainda é repetição. com uma roupagem cheirando a verde, mas ainda sim repetição. quando a idéia é boa, pro poema, a forma não acompanha a idéia, e vice-e-versa. é que ainda tem poeta que pensa que no poema vale tudo, não há verso mais difícil do que o verso livre, por exemplo. e o excesso de uma cabeça teórica também faz mal ao poema. porque poesia é muito mais do que um desejo, muito mais do que um exibicionismo, muito mais do que uma extensão profissional.
a poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. a poesia revela este mundo; cria outro. pão dos eleitos; alimento maldito. isola; une. convite à viagem; regresso à terra natal. inspiração, respiração, exercício muscular. súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero [...]
assim começa octávio paz em seu livro "o arco e a lira", escrito em 1956.
enquanto eu seguia no trotezito corredor a fora, pra ver se comprava umas novilhas, pensei outras coisas também, mas estas ficam pra outro dia.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

e a greve, mais uma vez o papo de greve

tem indicativo de greve; que coisa, passam-se os anos e a mesma luta coninua... a minha primeira greve como docente em universidade federal foi em 1998. um tempão parados, esperando uma reação positiva do governo e veio o corte de salários. no meio desta greve eu coordenava um projeto de extensão - noções de literatura ocidental - para o público em geral. foi um caos, porque de ganhos efetivos para a causa da educação, muito pouco (para usar um oxímoro tão brasileiro...). e agora, com este governo que entende de fazer e de desmobilizar greves, mais uma se avizinha. a mim me parece que a greve já foi instrumento de pressão, hoje é apenas um recurso para gerar mais descontentamentos. será isso mesmo? eu me pergunto sobre a real eficácia... e há outra coisa a ser feita? ainda que de longo prazo, acho que sim: quando votar, fazê-lo com efetiva responsabilidade prá não se arrepender depois ou ter que lançar mão de greves...
quem ganha nas greves? quem? ainda funcionam as greves do magistério? claro, há que marcar o descontentamento, as discordâncias, as posições políticas, as reinvindições de condições realmente dignas para se trabalhar, investimentos reais na educação, etc etc etc e, é claro, reposições salariais...
vamos ver...

sábado, 5 de maio de 2012

mais um fim de semana

uma ex-professora e querida amiga, respondendo por correio eletrônico a uma publicação deste blog, me disse "quem mandou?" escolher a carreira do magistério... é verdade, quem mandou? em qualquer dos níveis, professora do ensino fundamental, do ensino médio, do ensino universitário (graduação e pós-graduação) há um descaso por parte das ações governamentais e da sociedade em geral. aliás, não estou dizendo nada demais... a gente trabalha as horas presenciais nas universidades mais outras tantas horas sem conta em casa corrigindo provas, preparando aulas, redigindo ensaios, respondendo emails dos alunos, lendo, lendo e lendo. tenho uma colega que além de toda essa função, ainda recebe em sua casa os alunos-estagiários. e muita gente acha que ganhamos fácil... pois sim! mas "quem mandou"? realmente não sei "quem mandou"... sei que sou professora e que um dos meus maiores prazeres foi com uma turma de alunos do mestrado em história da literatura; havia um aluno que sentia muita dificuldade em entender as teorias sobre a filosofia do imaginário, mas ele insistiu nas leituras, não queria perder as aulas, não queria se acomodar em um conhecimento "padrão"; uma tarde, durante a apresentação do seminário de uma aluna, vi que sua expressão mudava. e à medida que a aula seguia com as explicações que eu dava, este rapaz literalmente sofreu uma epifania. ele comentava, perguntava, fazia afirmações, enfim, descobria o funcionamento da coisa. sua alegria era contagiante e a mim, particularmente, recompensadora. minha função é esta: ensinar a pensar, e, para isso, a literatura é a melhor e a mais bem acabada forma de conhecimento do homem, sobre o homem, para o homem em todas as suas possíveis relações. gosto muito de parafrasear uma expressão kardecista: "fora da caridade não há salvação", que pra mim é: "fora da poesia não há salvação". "quem mandou?", minha amiga, não sei mesmo, só sei que apesar de todos os contratempos da profissão não estou sozinha nesta faina diária.  

autobiografia no brasil - estratégias de leituras


1 PLANO GERAL DO TRABALHO



1.1  ANTECEDENTES



Desde meu curso de Mestrado em Literatura Brasileira[1], passando pelo doutoramento na mesma área[2], ambos cursos realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tenho desenvolvido trabalho de investigação sobre as manifestações literárias inseridas na etiqueta “literatura íntima”. Após esse período de formação acadêmica, continuei minhas pesquisas relativas ao gênero autobiográfico através de orientações na graduação, com alunos bolsistas pibic-cnpq, bem como no curso de mestrado História da Literatura, FURG, com meus orientandos. Os resultados têm sido utilizados nas aulas ministradas especialmente na pós-graduação; as publicações que tenho feito igualmente têm seguido esse caminho[3].

O ensaio Hibridação e identidade na poesia autobiográfica de Carlos Drummond de Andrade trata de processos autobiográficos em livros de Drummond posteriores à publicação da série Boitempo, a qual já foi alvo de pesquisa em minha tese de doutoramento. A partir de certos procedimentos drummondianos, escolhi alguns poemas diversos, os quais deixam à mostra a perspectiva do oxímoro como construção literária definidora de sua visão de mundo pessoal. As marcas da hibridação, fundamento desta figura de estilo característica do barroco brasileiro,  se estendem, de forma significativa, pela obra e pelo gênero autobiográfico praticado por ele.

Longe de encerrar a problematização do gênero autobiográfico, o qual, como pude observar, imiscui-se na lírica camuflando-a como um discurso meramente ficcional,

retratos de infância

RETRATOS DE INFÂNCIA:

A poesia brasileira nas marcas de um espelho especial


1 PLANO GERAL DO TRABALHO



1.1  ANTECEDENTES

Desde minhas pesquisas relativas ao gênero autobiográfico venho trabalhando com a perspectiva do imaginário a partir da releitura de alguns mitos gregos, tais como o mito de Narciso, de Teseu e o Labirinto, de Orfeu, entre outros. As autobiografias de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Isabel Allende (excepcionalmente uma não-brasileira), Graciliano Ramos, José de Alencar, Murilo Mendes[1] e, ainda em fase preliminar, de Augusto Meyer têm sido alvo de minhas investigações, bem como de orientações no Programa de Pós-graduação em Letras – Mestrado em História da Literatura, da FURG/RS. Estes autores, na sua maioria poetas, não constroem apenas uma peça documental, mas sim textos sensivelmente comprometidos com a palavra autobiográfica dentro de seu extrato ficcional. Ou seja, a despeito de suas autobiografias se constituírem como um discurso referencial de estreitas ligações com o discurso historiográfico, seus textos dialogam com as técnicas narrativas mais variadas em busca de suscitar no leitor não apenas a sua credulidade, mas também o prazer estético inerente à obra de arte. Esse tema, em especial na produção dos poetas, me conduziu à problematizações específicas acerca do imaginário.